Internacionalização acelerada é uma janela de oportunidades, acredita Henry Quaresma
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Henry Uliano Quaresma (Fotos: Arquivo pessoal)
Em entrevista à rede RCN, Henry Uliano Quaresma, CEO da Brasil Business Partners e membro de conselhos de empresas e entidades empresariais, explorara as estratégias, os benefícios e os desafios associados à internacionalização acelerada
Nos últimos anos, a internacionalização acelerada tem se destacado como uma estratégia essencial para empresas que desejam expandir rapidamente suas operações além das fronteiras nacionais. Impulsionada pela globalização e pelos avanços tecnológicos, essa abordagem envolve a entrada rápida e eficaz em mercados estrangeiros, frequentemente em várias regiões simultaneamente.
Em entrevista à rede RCN, Henry Uliano Quaresma, CEO da Brasil Business Partners e membro de conselhos de empresas e entidades empresariais, explorara as estratégias, os benefícios e os desafios associados à internacionalização acelerada, destacando como essa estratégia pode ser aplicada tanto por grandes corporações quanto por pequenas e médias empresas (PMEs).
RCN: O Que é Internacionalização Acelerada?
Henry Uliano Quaresma: A internacionalização acelerada refere-se ao processo pelo qual uma empresa expande rapidamente suas operações para mercados internacionais. Diferentemente dos modelos tradicionais, que seguem um padrão mais gradual e sequencial, a internacionalização acelerada busca aproveitar janelas de oportunidade no mercado global para estabelecer uma presença significativa em um curto espaço de tempo. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), empresas que adotam essa abordagem podem aumentar suas receitas internacionais em até 50% em menos de três anos, comparado a um crescimento anual de 10-15% observado em modelos tradicionais.
Empresas que adotam essa abordagem frequentemente utilizam inovações tecnológicas, redes globais de fornecedores e clientes, além de estratégias de marketing digital para atingir rapidamente um público internacional.
RCN: Quais seriam as estratégias de Internacionalização Acelerada?
Henry Uliano Quaresma: Existem várias estratégias que podem ser empregadas para alcançar uma internacionalização acelerada, adaptáveis a empresas de diferentes tamanhos e setores:
a) Parcerias e Alianças Estratégicas
Formar parcerias com empresas locais em mercados estrangeiros é uma maneira eficaz de acelerar a entrada em novos mercados. Para PMEs, essas alianças podem ser particularmente valiosas, pois permitem aproveitar o conhecimento local, a infraestrutura existente e a rede de contatos da parceira, minimizando riscos e custos. Estudos indicam que empresas que formam parcerias estratégicas aumentam suas chances de sucesso internacional em até 30%.
Por exemplo, uma pequena empresa de tecnologia pode se associar a uma distribuidora local em um novo mercado para acelerar sua entrada, aproveitando a rede de clientes já estabelecida da parceira.
b) Fusões e Aquisições
A aquisição de empresas já estabelecidas no mercado-alvo pode fornecer acesso imediato a uma base de clientes existente, além de infraestrutura e know-how. Embora essa estratégia seja frequentemente associada a grandes empresas, PMEs também podem se beneficiar de aquisições menores ou fusões com empresas complementares em novos mercados. De acordo com a Deloitte, 60% das aquisições internacionais bem-sucedidas envolvem PMEs que buscam nichos específicos.
Por exemplo, uma empresa de médio porte do setor de alimentos pode adquirir uma pequena fábrica local em um novo país, facilitando sua expansão e garantindo conformidade regulatória desde o início.
c) Exportação Digital
O comércio eletrônico e as plataformas digitais abriram novas possibilidades para a internacionalização. Empresas de pequeno e médio porte, que antes estavam limitadas por recursos, agora podem vender seus produtos globalmente através de marketplaces online, reduzindo a necessidade de presença física em todos os mercados. Segundo a eMarketer, as vendas globais de e-commerce cresceram 27% em 2023, demonstrando o potencial dessa estratégia.
Por exemplo, uma empresa de moda pode expandir rapidamente suas vendas internacionais através de plataformas de e-commerce, atingindo clientes em diversos países sem a necessidade de lojas físicas.
d) Modelos de Franquias e Licenciamento
Para empresas com produtos ou serviços que podem ser facilmente replicados, o modelo de franquia ou licenciamento é uma estratégia eficaz. Isso permite a expansão internacional com menor investimento de capital e risco operacional, transferindo parte da responsabilidade para os franqueados ou licenciados. De acordo com a Associação Brasileira de Franchising, o setor de franquias cresceu 15% nos últimos cinco anos, evidenciando sua eficácia na internacionalização.
Por exemplo, uma pequena rede de cafés pode expandir internacionalmente através de franquias, permitindo que empreendedores locais adaptem o modelo de negócios à cultura e ao mercado local.
RCN: E quais seriam os benefícios da Internacionalização Acelerada?
Henry Uliano Quaresma: A internacionalização acelerada oferece diversos benefícios que podem dar à empresa uma vantagem competitiva significativa:
a) Crescimento Rápido de Receita
Ao acessar múltiplos mercados simultaneamente, as empresas podem alcançar um crescimento significativo de receita em um período relativamente curto. Em média, empresas que internacionalizam de forma acelerada registram um aumento de 40% em suas receitas globais nos primeiros três anos, especialmente em setores onde a demanda interna está saturada ou em declínio.
b) Diversificação de Risco
Expandir para vários mercados reduz a dependência de um único mercado, diversificando o risco. Problemas econômicos, políticos ou de mercado em uma região específica podem ser compensados por desempenhos melhores em outras regiões. Segundo o HSBC, empresas diversificadas internacionalmente apresentam uma resiliência financeira 25% maior em crises econômicas.
c) Inovação e Aprendizado
A exposição a diferentes mercados, culturas e práticas de negócios pode estimular a inovação dentro da empresa. O aprendizado obtido em diferentes contextos pode ser aplicado de volta à operação global, aprimorando produtos, serviços e processos. Empresas que operam em múltiplos mercados relatam um aumento de 20% em suas capacidades inovadoras devido à diversidade de experiências.
RCN: Certamente, existem desafios para adotar a Internacionalização Acelerada. Quais seriam?
Henry Uliano Quaresma: Apesar dos benefícios, a internacionalização acelerada também apresenta uma série de desafios que precisam ser cuidadosamente gerenciados:
a) Complexidade Operacional
A entrada em múltiplos mercados simultaneamente aumenta a complexidade operacional, desde a gestão da cadeia de suprimentos até o atendimento ao cliente e a conformidade regulatória. Para PMEs, a falta de recursos para gerenciar essa complexidade pode ser um desafio significativo. Dados da McKinsey indicam que 35% das empresas enfrentam dificuldades operacionais durante a internacionalização acelerada.
b) Risco de Sobreexpansão
A expansão muito rápida pode sobrecarregar os recursos da empresa, levando a problemas de execução e qualidade. É crucial manter um equilíbrio entre a velocidade de expansão e a capacidade operacional, especialmente para empresas menores com recursos limitados. Segundo a Harvard Business Review, 50% das empresas que se expandem rapidamente enfrentam problemas de qualidade nos primeiros dois anos.
c) Barreiras Culturais e Linguísticas
Adaptar-se às diferentes culturas, preferências do consumidor e práticas de negócios em cada mercado pode ser desafiador. Empresas que não conseguem se adaptar localmente correm o risco de falhar, mesmo que sejam bem-sucedidas em outros mercados. Estudos mostram que 60% das falhas na internacionalização estão relacionadas à inadequação cultural.
Por exemplo, uma empresa de tecnologia pode precisar ajustar seu produto para atender às preferências culturais e regulatórias de diferentes regiões, garantindo que a interface e as funcionalidades sejam relevantes para cada mercado.
d) Conformidade Legal e Regulatória
Cada país tem suas próprias leis e regulamentações, que podem ser complexas e difíceis de navegar. Falhas em cumprir com as exigências legais podem resultar em multas, sanções ou até na proibição de operar no mercado-alvo. Segundo a PwC, 45% das empresas enfrentam desafios regulatórios ao se internacionalizarem, impactando seus planos de expansão.
RCN: Essa internacionalização acelerada estaria ao alcance das pequenas e médias empresas?
Henry Uliano Quaresma: A internacionalização acelerada é uma estratégia poderosa para empresas que buscam crescimento rápido e desejam se estabelecer como players globais. Para pequenas e médias empresas, essa abordagem pode ser igualmente vantajosa, desde que planejada com cuidado e executada com flexibilidade. Ao alavancar parcerias locais, fusões e aquisições estratégicas e inovação digital, empresas de todos os tamanhos podem navegar pelos desafios da internacionalização acelerada e capitalizar as oportunidades que surgem em um mercado global em constante evolução.
Com uma execução bem planejada, baseada em dados e adaptabilidade, a internacionalização acelerada pode não apenas impulsionar o crescimento, mas também posicionar a empresa como líder em seu setor. Investir em estratégias robustas e estar preparado para enfrentar desafios operacionais, culturais e regulatórios é fundamental para o sucesso nesse processo.
Nosso entrevistado: Henry Uliano Quaresma é CEO da Brasil Business Partners e membro de conselhos de empresas e entidades empresariais. Foi Diretor Executivo na Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), onde participou ou coordenou mais de 90 missões empresariais internacionais em mais de 50 países. Atuou profissionalmente em universidades como professor, em indústrias e governo. É engenheiro, possui MBA em Administração Global pela Universidade Independente de Lisboa, especialização em Marketing pela FGV e concluiu Programas Executivos em Estratégia e Gestão pela Wharton School (EUA) e pela INSEAD (França). É autor de artigos e livros, destacando-se o livro “O Fator China e os Novos Negócios” (2021), obra consolidada como referência na área empresarial.
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