1/3 dos catarinenses estão vinculados ao cooperativismo

 

 

Fortalecimento econômico das cooperativas, aumento do número de associados e adoção de uma política de responsabilidade social são os resultados dos quatro anos de gestão de Neivor Canton na presidência da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), cujo mandato se encerra nesta sexta-feira, 25.

Canton, 54 anos, casado, é graduado em letras e direito; atua no cooperativismo há 25 anos. Foi vice-prefeito e prefeito de Ipumirim, presidente da Federação Catarinense de Municípios (Fecam) e da AMAUC, superintendente da FEAUC e pró-reitor administrativo da Universidade do Contestado, entre dezenas de outros cargos exercidos na vida comunitária. Presidiu a Copérdia, de Concórdia, e atualmente é diretor administrativo e financeiro da Coopercentral Aurora, de Chapecó.

 

Qual a avaliação que o Sr. faz de seus quatro anos à frente da Ocesc? Quais os aspectos positivos e negativos que marcaram sua gestão?

Neivor Canton ? Ter a melhor oportunidade de servir ao melhor cooperativismo que o Brasil conhece é, sem dúvida, um privilégio. Conviver com o pluralismo de nossos ramos e as pessoas que nelas atuam, foi um grande exercício de crescimento e democracia. Ver que a sociedade esta optando pelo cooperativismo como meio de realização econômica e social, é a consolidação de um sonho que há pouco tempo parecia distante. Em Santa Catarina, isto já é real. 

 

O sistema cooperativo de SC cresceu, nesse período, à taxa 8% a 20% ao ano, puxado pelos ramos agropecuário, crédito e transporte. A que se deve isso?

Canton ? O crescimento do sistema como um todo vem acontecendo à taxas surpreendentes. Numa economia brasileira que quase tem marcado passos, crescer 20% ao ano, ao longo de quase uma década, é sinal de muita vitalidade e de ocupação de novos espaços. É mais gente optando pelo cooperativismo, em todos os seus ramos. Alguns ramos são melhores estruturados e exploram atividades onde a economia favoreceu, pelo seu comportamento e pelo momento da história.

 

Traduzindo em números, como podemos quantificar esse crescimento?

Canton ? O número de cooperativas durante o período de 2003/2007 decresceu 16%, fruto da racionalização da estrutura através de fusões, parcerias e extinção de unidades improdutivas, mas aumentou em 43% o número de associados no mesmo período. O destaque fica por conta do ramo de crédito e ramo de consumo cujo crescimento foi de 108% e 45% respectivamente, no período. São hoje 771 mil famílias, ou seja, 1/3 da população catarinense vinculado ao cooperativismo.

 

Uma de suas metas era obter pleno sucesso na autogestão das cooperativas através da qualificação dos quadros técnicos e de dirigentes. Essa meta foi atingida?

Canton ? Posso afirmar que plenamente. Aliás, este quesito, da qualificação dos quadros técnicos e de dirigentes de nossas cooperativas é o que mais pesou e pesará para o êxito das nossas organizações cooperativas. Assim se justificam sobremaneira, os investimentos realizados na preparação das pessoas de quem dependem os rumos das cooperativas. Incluo neste contexto também, programas de preparação dos quadros de cooperados.

 

Sua gestão foi implacável no expurgo do sistema Ocesc/Sescoop daquelas cooperativas que de alguma forma não cumpriam normas legais, éticas e morais do cooperativismo. Essa conduta contribuiu para dar credibilidade ao sistema?

Canton ? A credibilidade que se observa e da qual usufruímos no cooperativismo atual é construída à duras penas e à longo prazo. Toda vez que uma cooperativa, de qualquer ramo, vai mal, isso repercute na sociedade e no sistema, como que se todo ele fosse questionável. Por isso fazemos bem nosso tema de casa. ?Cooperativa, tem que ser cooperativa?. Adotar e praticar nossa doutrina e princípios. Assim o sistema se protege. As que forem só de fachada, não devem existir. São, portanto expurgadas.

 

Dessa orientação nasceu o selo de certificação concedido pela Ocesc às cooperativas que, pela sua prática, verdadeiramente cumprem a doutrina e os objetivos do cooperativismo?

Canton ? Sim. As cooperativas, cujas práticas no dia-a-dia, ensejam a perfeita adoção dos princípios difundidos como doutrina, devidamente auditadas, recebem o selo de certificação. Equivale dizer que estas cooperativas, por exemplo: pagam os tributos legais, realizam Assembléias regularmente com seus cooperados, têm seus Conselhos, inclusive Conselho Fiscal, cumprindo sua missão, dão ampla transparência de todos os seus atos, praticam a democracia organizacional, entre outros. É o caminho para a purificação do sistema.

 

No último quadriênio as cooperativas engajaram-se mais intensamente nas ações de responsabilidade social-ambiental, inclusive com a edição de um balanço consolidado do sistema. Isso é próprio do cooperativismo ou as cooperativas estão apenas seguindo uma tendência contemporânea?

Canton ? A orientação que emana do sistema é de que as cooperativas estejam plenamente atentas e na vanguarda da preservação ambiental e praticas sociais; Temos diversos exemplos de cooperativas premiadas neste campo pelas suas práticas exemplares. Estamos no terceiro ano consecutivo, publicando o relatório sócio-ambiental consolidando do sistema cooperativo catarinense. É a prova de que responsabilidade sócio-ambiental está no DNA das cooperativas.

 

A criação da Frente Parlamentar Estadual do Cooperativismo (Frencoop) na ALESC, com deputados compromissados com as bandeiras da Ocesc, contribuiu para o fortalecimento institucional do cooperativismo?

Canton ? Contribuem. A Frente Parlamentar do Cooperativismo, na Assembléia Legislativa, após alguns anos de inatividade, ressurgiu com muito vigor. Foi surpreendente a adoção que tiveram os senhores deputados. É a demonstração clara que, em suas bases eleitorais, as cooperativas realizam trabalhos dignos de reconhecimento. Esperamos logo termos criado legislação própria para o Cooperativismo Catarinense.

 

Por falar nisso, como o Sr. avalia a atuação da Frencoop Nacional no Congresso, capitaneada pelo catarinense Odacir Zonta?

Canton ? No Congresso Nacional, começamos a colher alguns frutos, pela atuação da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), fortemente apoiada pela Frente Parlamentar Cooperativista, coordenada pelo deputado catarinense Odacir Zonta. Zonta tem a facilidade de lidar com os assuntos do cooperativismo por sua plena identificação com o meio, do qual é oriundo. Ele tem conseguido, lá no Congresso, vender bem seus pares, este produto por muitos desconhecidos, que se chama cooperativismo. Assim, está pavimentado o terreno para novas e necessárias conquistas do que o sistema carece.

 

O Congresso tem sido pouco produtivo em matéria de cooperativismo. Por que ainda dormitam nas gavetas do Legislativo federal projetos de alta relevância para o país como a nova lei geral do cooperativismo, a regulamentação do ato cooperativo, as cooperativas de crédito e a regulamentação das cooperativas de trabalho?

Canton ? O Congresso Nacional é um gigante que, para mover-se, queima uma energia extraordinária e é por natureza lento. Dezenas de projetos do interesse das cooperativas sofrem de paralisia. As conquistas são à conta-gotas. Os ramos, cujo ato cooperativo tem seu reconhecimento legal, são o Agropecuário, o Crédito, o Infra-estrutura e o Transporte de cargas. Os demais esperamos que aconteçam no curto prazo, quem sabe na carona da esperada nova lei geral, desde que venha para modernizar o sistema e dar-lhe condições de competitividade mercadológica.

 

O cooperativismo presta um grande serviço ao país. Está comprovado que os municípios onde atuam cooperativas o IDH é mais elevado. O governo federal, entretanto, nunca tratou o cooperativismo como parceiro do desenvolvimento econômico e social do país. O governo do presidente Lula teria uma visão distorcida do setor?

Canton ? O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva é suficientemente inteligente e capaz de compreender a capacidade transformadora que o Cooperativismo tem. O difícil para ele é administrar um verdadeiro ?assédio ideológico? que o cerca, oriundo de mais de uma procedência.

 

Em sua gestão, o Sr. valorizou o jovem e a mulher. Qual o papel desses dois públicos no futuro do cooperativismo catarinense?

Canton ? É importante dizer que a Mulher e o Jovem, já no presente, são ingredientes ativos no cooperativismo em Santa Catarina. As cooperativas que já trouxeram aos seus quadros sociais, a participação das Mulheres e Jovens, marcaram pontos avançados, em relação às outras, que não o fizerem. Encontramos atualmente, mulheres Conselheiras, dirigentes, gerentes, líderes, etc. em muitas cooperativas, e com muito êxito. Os jovens, igualmente, fazem no devido tempo, ?o estágio? para um futuro cooperado consciente.