A população de Abelardo Luz disse ?não? à construção da Usina do Túnel, durante a Audiência Pública realizada na Câmara municipal da cidade. 2.585 pessoas que assinaram documento contra a construção.
A população de Abelardo Luz disse “não” à construção da Usina do Túnel, durante a Audiência Pública realizada na noite da última terça-feira (25/8) na Câmara municipal da cidade. Pelo menos é o que demonstra a manifestação popular que apresentou cerca de 2.585 assinaturas (registradas em cartório), e outras mil colhidas antes da sessão, contra a construção do túnel, que coloca em risco as Quedas do Rio Chapecó. Apenas 95 pessoas assinaram a favor da obra. Da audiência, participaram cerca de 200 pessoas no salão da Câmara e mais de 300 do lado de fora, onde foi montada uma tenda, com telão.Também se manifestaram contra a construção do túnel 36 entidades, empresas e líderes da sociedade organizada abelardense e da região.
Técnicos da empresa que pretende construir a usina fizeram, por 75 minutos, uma apresentação sobre a obra e seus impactos na cidade, assegurando que o túnel não tiraria volume de água suficiente para prejudicar as Quedas. No entanto, diversos dados usados na palestra foram depois desacreditados por especialistas que participaram da segunda parte da Audiência, aberta para manifestações e indagações.
Um dos dados mais polêmicos foi quanto à vazão média do rio Chapecó, que o engenheiro da obra afirmou que seria de 240 m3/s, enquanto que o RIMA (Relatório de Impacto Ambiental) fala em vazão máxima de quase 100m3/s.
PEIXE SALVA QUEDAS
Na audiência, o biólogo Leandro Baucke, destacou que “nas Quedas foi descoberta e catalogada uma espécie de peixe que só existe ali, e em nenhum lugar mais no Mundo. É a Joaninha (Crenicichla Emtheres), que é endêmica – ou seja: só vive naquele lugar. A evolução se deu só neste lugar e pelo isolamento geográfico fez com que a Joaninha permanecesse só nestas Quedas”. Fontes da Fatma, que preferem não se identificar no momento, afirmaram que este fato, de existir esta espécie de peixe endêmica, e que vive só nas Quedas de Abelardo Luz, já é um fator importantíssimo no julgamento do mérito da implantação desta hidrelétrica. Este aspecto da fauna é fundamental, pela preservação”.
O biólogo Milton de Filtro, comentou que “a usina afirma que necessita de 30m/s para gerar 15KW, utilizando 40,8% da vazão do rio Chapecó. Se eles passarem a usar, para gerar o que precisam, ou seja 28,3 MW, usariam 40m3/s, o que corresponde a 70% da vazão média do rio, que é de 60m/s”, contradizendo os relatos da Usina.
TURISMO É O CAMINHO
O Secretário de Turismo do Estado de Santa Catarina, Gilmar Knaesel, que participou de toda a Audiência, pronunciou-se ao final afirmando que, “o turismo que mais se desenvolver e que tem o maior potencial, no mundo todo, é o ligado à Natureza. Cerca de 60% do turismo no planeta é de lazer e deste total 80% estão ligados à água, seja no mar, em lagos ou rios. Santa Catarina apresenta uma participação do turismo no seu PIB (Produto Interno Bruto) de 12%, que é maior do que a média mundial, que é de 10%. No Brasil, como um todo, o turismo representa ainda só 3% do PIB, como relata estudo da Universidade de Oxford”.
“As Quedas de Abelardo Luz são um produto único, para esta região, para Santa Catarina e para o Brasil. Não existe nada igual e é nosso dever preservar estas Quedas, pois ela são um grande patrimônio de Santa Catarina”, afirmou o Secretário de Turismo catarinense, sendo muito aplaudido pela platéia.
MANIFESTAÇÕES
Com o auditório tomado, por cerca de 200 pessoas, a maioria com a camiseta azul que dizia “SOS Quedas”, a audiência foi conduzida por Luiz Antonio Garcia, presidente da Comissão de Licenciamento da Fundação do Meio-Ambiente de Santa Catarina, a Fatma. Após a apresentação técnica da Usina, aconteceram 60 manifestações da platéia, orais e por escrito – todas contra a construção da usina.
Entre os principais pontos, além do fim das quedas, estavam a preocupação ambiental, as questões do mercado de trabalho e da mão-de-obra, a utilização e participação do comércio local – que seria abandonado em detrimento dos grandes comerciantes de porte estadual e nacional, e também o número de empregos diretos que seriam gerados depois da construção.
O posicionamento de líderes políticos também teve peso e participação decisiva na manifestação popular contrária à construção da usina. O deputado federal Valdir Colatto, que é engenheiro agrônomo e começou sua vida profissional em Abelardo Luz, deixou um depoimento escrito em que ressalta a importância das quedas como patrimônio cultural da cidade, mas de todo o estado e do país. O deputado estadual Padre Pedro, através de representação, fez uma explanação da necessidade da preservação ambiental e cultural das quedas.
“A sociedade abelardense está aqui e ela é contra esta usina e este túnel”, afirmou Dirceu Pelegrino, representante do MST (Movimento dos Sem Terra) que destacou que “o movimento não está convencido pelos argumentos dos usineiros e está veementemente contra qualquer ameaça que possa existir à nossas quedas”. O empresário Fabrício Stefani protocolou o anteprojeto de ampliação do Park Quedas Hotel, “que só poderá ser desenvolvido se as Quedas de Abelardo Luz forem totalmente preservadas”. Diversos ex-prefeiros, vereadores e lideranças abelardenses se pronunciaram, todos contra a construção da usina. Não houve uma manifestação sequer em favor da obra.
AMIGOS DAS QUEDAS
Além das 2.585 pessoas que assinaram documento contra a construção da usina, registrado em Cartório (mais mil não registrados porque chegaram só no final dia, quando o tabelionato já estava fechado), manifestaram-se veementemente contra o empreendimento as seguintes entidades e empresas: Agropecuária Oliveira da Luz, APP Escola irineu Bornhausen, Associação dos Ex-Alunos Cenecistas, Avepar – Frigorífico de Aves, Câmara dos Diretores Lojistas(CDL), Centro de Formação Humana Maria Bernarda, Claudecir Sperotto, Clube Real de Abelardo Luz, Colégio Estadual Anacleto Damiani, Conselho da Igreja Matriz São Sebastião, Cooperfértil, Coptar – Coop.Alim. Terra Viva, Cresol/Crediluz, CTG Poncho Verde, CTG Querência Farroupilha, Dr. José Carlos Momesso, Grupo do Idoso – Quintal do Idoso, Hospital Nossa Senhora Aparecida, Igreja Evangélica Assembléia de Deus, Indústria de Erva Mate Cerutti, Leo Clube de Abelardo luz, Lions Clube de Abelardo Luz, Loja Maçônica Liberdade e Justiça 45, Luiz Antonio Mignoni, Marcil Pompeu da Silva, MST-Movimento dos Sem-Terra, Nerci Santin, Paróqioa São Sebastião, Parque das Quedas Turismo, Rádio Rainha das Quedas, Rede Feminina de Combate ao Câncer, Sebastião Vitt de Cândido, Sementes A&M, Sindicato Rural de Abelardo Luz, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Tecnosafra Ltda. Com 36 ofícios à FATMA e à AANEL protocolados e registrados em Cartório.
Deputado Colatto é contra usina que interferirá nas 7 Quedas de Abelardo Luz
Em defesa pela preservação das 7 Quedas de Abelardo Luz (SC) e contra a construção da Usina do Túnel, o deputado federal Valdir Colatto (PMDB/SC) manifestou-se garantindo apoio à comunidade que luta pela permanência deste que é considerado o patrimônio natural da região e da humanidade.
Por compromissos inadiáveis assumidos em Brasília, Colatto não pode comparecer a audiência pública convocada pela FATMA na última terça-feira (25/8), em Abelardo Luz, mas atendeu durante esta semana todas as pessoas e entidades que o procuraram preocupados com a instalação de um túnel no leito do Rio Chapecó que interferirá no curso natural das 7 Quedas de Abelardo Luz.
Durante a audiência, o vereador de Xanxerê, Carlos Colatto (PMDB), leu uma carta assinada pelo deputado, Cidadão Honorário de Abelardo Luz, endereçada ao presidente da Fatma, Murilo Flores, órgão ambiental responsável pelas licenças ambientais de empreendimentos hidrelétricos. Na carta, Valdir Colatto manifesta-se contra a implantação da hidrelétrica acima das quedas com desvio de água pelo túnel.
O deputado afirma que “não há razão técnica que justifique a construção de uma usina com menor potencial, que coloca em risco as belezas naturais do local se uma outra hidrelétrica após as quedas poderá gerar mais energia e menos impacto ambiental”. Segundo Colatto, além da geração de maior potencial de energia, se a hidrelétrica for construída abaixo das Quedas irá viabilizar outra fonte de atividade econômica, que é o turismo – uma das maiores vocações de Aberlado Luz.
Mais importante, salienta Colatto “é respeitar a posição da maioria da população de Abelardo Luz, contrária a usina naquele local”. A Usina do Túnel é empreendimento elaborado pela Hidrelétrica Verde Vale e terá capacidade de gerar 29 megawatts de energia.
A Carta:
Senhor Presidente
Por motivo de compromissos inadiáveis em Brasília, na defesa da agropecuária e dos interesses de Santa Catarina e do Brasil, não foi possível participar da audiência pública da FATMA, em Abelardo Luz, para tratar da usina túnel no Rio Chapecó.
Como é do conhecimento de todos e como Cidadão Honorário de Abelardo Luz, onde há 35 anos iniciei minha vida profissional como engenheiro agrônomo e conheço cada palmo deste município e suas belezas naturais tanto do Rio Chapecó como das maravilhosas Quedas do Rio Chapecó que hoje não são mais patrimônio só de Abelardo Luz mas de toda a humanidade, manifesto minha posição clara contra a implantação da hidrelétrica acima das quedas com desvio de água pelo túnel.
Minha posição fundamenta-se em quatro pontos principais:
1º) Há que se respeitar a posição contrária da maioria esmagadora da população de Abelardo Luz contrária a hidrelétrica naquele local.
2º) Não se pode pensar em colocar em risco o desaparecimento das belezas sem igual das Quedas do Rio Chapecó, um patrimônio da humanidade.
3º) Não há razão técnica que justifique fazer uma usina com menor potencial colocando em risco as belezas das Quedas se uma outra hidrelétrica após as mesmas poderá gerar mais energia e menos impacto ambiental.
4º) Além da geração de maior potencial de energia, se a hidrelétrica for construída abaixo das Quedas irá viabilizar outra fonte de atividade econômica - o turismo que é uma das maiores vocações de Abelardo Luz, criado por Deus e pela natureza.
Concluindo, rogo aos técnicos da FATMA que ouçam e respeitem a população e a sociedade de Abelardo Luz e, que por consciência e bom senso, não permitam a licença ambiental da usina pleiteada pelo desvio das águas através do túnel, pois, com certeza, irá anular as belezas das Quedas do Rio Chapecó.
Saudações a todos e que Deus ilumine a cada um por uma decisão justa e consciente em favor da beleza e da natureza que nos foi dada e que certamente ninguém de nós tem o direito de modificar, pois as Quedas não pertencem só a nós, mas também a todos aqueles que ainda irão nascer.
Com certeza todos os que estão participando desta audiência pública deverão pensar seriamente nisso!
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