Imunização de indígenas catarinenses integra iniciativa da Organização Pan-Americana de Saúde para vacinar 35 milhões de pessoas no hemisfério americano

O Posto de Saúde da aldeia Palmeira, localizado a vinte quilômetros da sede de José Boiteux, vai sediar às 10 horas do dia 24 de abril o lançamento em terras indígenas catarinenses da Semana de Vacinação das Américas, iniciativa coordenada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) que pretende imunizar 35 milhões de pessoas em 39 países. Mais de cem profissionais serão mobilizados em Santa Catarina pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em parceria com a Secretaria de Estado e Secretarias Municipais de saúde para vacinar 7.200 pessoas, entre crianças, adultos e idosos, das etnias kaingang, guarani, xokleng e xetá contra diversas doenças como poliomelite, tuberculose, gripe, hepatite B, febre amarela, sarampo, caxumba, coqueluche, tétano, difteria e diarréia aguda causada pelo rotavírus, principal preocupação dos técnicos da Funasa. A letalidade do rotavírus é alta: de cada 293 crianças acometidas por este vírus, uma morre. Cerca de 1.500 profissionais, entre enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem e Agentes Indígenas de Saúde irão visitar 1.001 aldeias e imunizar 31.317 índios em 12 estados. A Funasa calcula que o gasto com o trabalho de imunização será de R$ 1,9 milhão.

 

Janete Ambrósio, chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena da Funasa, observa que a população indígena é mais vulnerável a doenças, em função da alimentação deficiente, de seu nomadismo e de hábitos como andar sem calçados e com pouca roupa - exposta às intempéries - e conviver em moradias precárias, de forma aglomerada (com mais de uma família na mesma habitação). Por isto, explica ela, a lista de vacinas contempla todas as faixas etárias da comunidade indígena, excetuando-se situações específicas como a vacina contra o rotavírus, indicada somente para crianças de sete dias a cinco meses e meio. Assim, por exemplo, a vacina contra a gripe, que na população não-índia é aplicada somente em idosos, abrange toda a comunidade indígena, a partir dos seis meses de idade.

 

Um trabalho de sensibilização de caciques, conselheiros e lideranças espirituais (como pajés) foi desenvolvido pelos profissionais para mobilizar a comunidade indígena. Os Agentes Indígenas de Saúde - profissionais recrutados na própria comunidade - atuaram na divulgação da Semana de Vacinação. Segundo Janete, o alvo principal da divulgação é o homem adulto: ?Tal como na população não-índia, este segmento é o que apresenta mais resistência à vacina, principalmente por medo de injeção?. A enfermeira diz que os indígenas já reconhecem a eficácia das vacinas. ?Eles perceberam que a vacina contra gripe reduziu as hospitalizações por doenças respiratórias, como pneumonias?, avalia Janete.

 

A vacinação será intensificada de 24 a 28 de abril mas se estenderá até 26 de maio. O objetivo da OPAS é fortalecer programas de vacinação nas Américas, priorizando populações com dificuldade de acesso a serviços de saúde, como zonas rurais, fronteiriças, áreas indígenas e regiões de intenso turismo. Cada país conduzirá os trabalhos de imunização de acordo com seus indicadores epidemiológicos. Assim,  por exemplo, Peru e Equador se concentrarão no combate à febre amarela. No Brasil, além da aplicação do calendário integral de vacinas nos povos indígenas, o foco na população não-índia será o combate à gripe: 12 milhões de pessoas com mais de 60 anos receberão a vacina. Cuba, El Salvador e República Dominicana buscarão a erradicação da poliomelite. A Bolívia combaterá a rubéola enquanto Venezuela e Uruguai focarão sarampo e rubéola. A Organização Pan-Americana de Saúde também planeja campanhas de comunicação e mobilização social na Jamaica e atividades nas fronteiras entre México e Estados Unidos, Haiti e República Dominicana.

 

Além de lançar a Semana de Vacinação das Américas em terras indígenas, a Funasa ainda vai inaugurar, no mesmo dia, às 11 horas, um Posto de Saúde  na Aldeia Figueira, na terra indígena Duque de Caxias, em Vitor Meireles, e, às 15 horas, um sistema de abastecimento de água na Aldeia Bugio, em Doutor Pedrinho. Com um prédio de alvenaria de 64,90 metros quadrados, o Posto de Saúde beneficiará 297 pessoas da etnia xokleng, que atualmente são atendidas pela equipe de saúde de forma improvisada numa escola desativada cedida pela  comunidade. A construção do sistema de abastecimento de água constituía antiga reivindicação da comunidade da Aldeia Bugio, que se ressentia de falta de água. A Fundação Nacional de Saúde investiu R$ 450 mil para implantar um sistema de água  para  350  xokleng. A topografia acidentada da Aldeia Bugio dificultou as obras de engenharia: a água é captada num riacho no fundo de um vale e elevada até o reservatório numa distância de 105 metros, altura equivalente a um edifício de 35 andares. A rede de distribuição da água às casas dos indígenas tem mais de sete quilômetros.

 

Saiba mais:

·        A Fundação Nacional de Saúde é o órgão do Ministério da Saúde responsável pela gestão da política de atenção à saúde dos povos indígenas no país.

·        A vacinação dos indígenas vai abranger os seguintes estados: Amazonas, Acre, Roraima, Tocantins, Pará, Mato Grosso, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

·        8.078 pessoas compõem a população indígena em SC, distribuídas em aldeias nos municípios de Abelardo Luz, Araquari, Barra do Sul, Biguaçu, Chapecó, Entre Rios, Garuva, Imaruí, Ipuaçu, José Boiteux, Palhoça, Porto União, São Francisco do Sul, Seara e Vitor Meireles.

·        A meta dos profissionais de saúde é imunizar 90% da população indígena do estado,  7.200 pessoas.

·        O slogan da campanha de vacinação no Brasil é ?Vacinar é cuidar?. Para a Organização Pan-Americana de Saúde, é  ?Um ato de amor?.