Número de profissionais cresce, Brasil já tem 2 médicos por mil habitantes, mas desigualdade regional permanece

Ao revelar em pesquisa inédita, nesta segunda-feira em Brasília, que o país já tem quase 400 mil médicos e que o número de profissionais cresceu 557% nos últimos 40 anos (enquanto a população cresceu 101%), mas mesmo assim persiste a falta de médicos principalmente no Interior, o presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto d’Ávila, respondendo a pergunta feita pela Adjori Brasil, anunciou que o documento será levado aos ministros da Educação e da Saúde, com a proposta “de um amplo debate sobre o tema”.

“Estamos desafiando a presidente Dilma, o ministro da Saúde, da Educação, os governadores e prefeitos, enfim, a sociedade brasileira a debater o assunto e encontrar soluções reais. O Governo vem com cartas na manga, com soluções mirabolantes, como a implantação de mais escolas e trazer médicos do Exterior, e nós estamos mostrando que essas não são as soluções”, afirmou o presidente do CFM.

Roberto d’Ávila enumerou uma série de propostas a serem apresentadas no debate e entre as principais destacou:

· Criação de uma “carreira de Estado para o médico do SUS”. A exemplo dos juízes, os médicos fariam concurso, percorreriam as cidades do Interior, e teriam 8 horas de dedicação exclusiva, podendo, no entanto, dar aulas.

· Remuneração compatível e condições para exercer a profissão. “Precisamos hospitais equipados, residência, e é bom lembrar que não são só médicos que estão faltando: faltam enfermeiros, dentistas, postos de saúde”, disse o presidente do CFM.

· Residência Médica “para todos e em todas as áreas”. Segundo d’Ávila, cabe ao Governo oferecer cursos de residência para cada médico que se forma, em cada especialidade e “isso é uma maneira de fixar o médico na região onde ele faz a Residência”.

· Manter o rigor do “Revalida”, que é o exame feito com os médicos formados no Exterior (65% deles são brasileiros que saem para fazer o curso fora). Para se ter uma ideia, no exame de 2011, só 65 foram aprovados entre 677 candidatos. “Não temos xenofobia com relação a esses profissionais, mas queremos que eles passem pelos exames porque a população brasileira não pode ficar à mercê de médicos desqualificados”, afirmou d’Ávila.

· Critérios técnicos para autorização de novos cursos de Medicina no Interior. O presidente do CFM elogiou a posição do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que anunciou a implantação desses critérios, mas lembrou que “é preciso que nas cidades onde será feita a implantação haja uma rede ambulatorial adequada, corpo docente qualificado, hospital para a prática e a Residência Médica, porque escola sem residência não fixa o médico”.

A pesquisa foi apresentada nesta segunda-feira (dia 18) na sede do Conselho Federal de Medicina, em Brasília, com a presença do presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, Renato Azevedo, do diretor de Comunicação do CFM, Desiré Callegari, e do professor da USP e pesquisador Mário Scheffer, que apresentou os números do estudo “Demografia Médica no Brasil 2: Cenários e Indicadores de Distribuição” .

De acordo com a pesquisa, o Brasil tem 388 mil médicos. Com este número, se estabelece em nível nacional uma razão de 2 profissionais por grupo de mil habitantes. “O país nunca teve tantos médicos em atividade – explicou o pesquisador – mas isso não beneficia de maneira homogênea todos os cidadãos brasileiros”. A desigualdade é grande: a região Norte tem apenas 1,01 médico para cada mil habitantes e o Nordeste 1,23. Na melhor posição está o Sudeste, com proporção de 2,67, seguido pela região Sul, com 2,09 e o Centro-Oeste, com 2,05.