A dança do vira...dos azeites aos vinhos


Se as autoridades governamentais portuguesas querem mesmo mostrar ao Brasil um Portugal virado para o futuro, têm de ?puxar os cordões à bolsa?.

De ano para ano, as promessas de ?modernização? das exportações portuguesas para o Brasil sucedem-se. Repetem-se. Mas, invariavelmente, basta olhar para as pautas de comércio dos dois países para constatar que tudo continua na mesma. É a dança do vira...dos azeites aos vinhos, passando pelo bacalhau!

Azeites, bacalhau e vinhos é o que mais chega ao Brasil vindo de Portugal. E ainda bem que chegam, porque, em geral, exceptuando alguns trapaceiros que procuram vender "gato por lebre", são de boa qualidade e fazem felizes, à mesa, brasileiros e portugueses.

O sector de ?comes e bebes? continua a ser, assim, o forte das exportações portuguesas, ainda que, em alguns itens, os preços sejam escandalosamente altos. O famoso ?queijo da serra?, sobre o qual, há um ou dois anos, o antigo Icep tentou esboçar uma operação de marketing, é vendido a preço de ouro.

Num dos supermercados da rede Pão de Açúcar, num bairro de classe média-alta de Brasília, um ?queijo da serra? ? quero supor que seja genuíno - está à venda por R$ 345 reais, o que equivale, mais ou menos, a 123 euros. Se a memória não me falha, os dois exemplares em mostra parecem-me ser os mesmos que já lá se encontram há mais de um mês.

No final do ano passado, durante um evento em São Paulo, Basílio Horta, presidente da Aicep ? a agência portuguesa para captação de investimentos e fomento do comércio ?, destacava, com ênfase, que o Portugal de hoje tem muitas outras coisas para exportar.

Referiu, a título de exemplo, a área das novas tecnologias. O presidente do Aicep não inovou no discurso. Disse, afinal, o que dizem, invariavelmente, os membros do governo português em visita ao Brasil. Que temos muita mais para vender ao mundo e ao Brasil que azeites, vinhos e bacalhau.

Mas, ficam-se pelo dizer. Porque mostrar não mostram nada. De quando em quando, o Aicep (ex-Icep) insere, a que custo não se sabe, uma referência ao Vinho do Porto numa qualquer novela da Globo ou abre as portas ? e muito bem - do consulado-geral de Portugal em São Paulo, onde está instalado, para apresentar qualquer outro produto, normalmente, dentro da área apetecível dos ?comes e bebes?, o que, obviamente, garante público, mas não consegue visibilidade.

Quando é que Portugal promoveu uma Feira de Turismo no Brasil? Ou uma Mostra de Novas Tecnologias? Ou uma Roda de Negócios para pequenos e médios empresários, em parceria, por exemplo, com o Sebrae?

Na realidade, o que tem sido feito em benefício da imagem de um "novo" Portugal no Brasil, salvo raras excepções, é mérito desta ou daquela Câmara portuguesa de comércio, em acções geralmente voluntaristas e sem outros apoios, financeiros ou técnicos, por parte das autoridades portuguesas, além de manifestações retóricas.

Se as autoridades governamentais portuguesas querem mesmo mostrar ao Brasil um Portugal virado para o futuro, têm de ?puxar os cordões à bolsa?. Têm de investir, seriamente e com critério, em marketing e publicidade. E ultrapassar o eixo São Paulo-Rio. Basta seguir, por exemplo, o caminho da TAP.