Na entrevista exclusiva à RCN, Henry Quaresma faz uma análise sobre alguns temas relevantes para o desenvolvimento econômico no país e cita algumas áreas mais promissoras para investimentos em SC

Henry Uliano Quaresma possui uma trajetória de mais de 25 anos nas áreas de Relações Institucionais, Negócios Internacionais e Industrial. Atualmente, é CEO da Brasil Business Partners e membro de conselhos de empresas e entidades empresariais. Exerceu o cargo de Diretor Executivo na Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), onde participou ou coordenou mais de 90 missões empresariais internacionais em mais de 50 países. Foi também professor universitário e atuou profissionalmente tanto no setor privado quanto no governamental. 

É engenheiro, com MBA em Administração Global pela Universidade Independente de Lisboa, possui especialização em Marketing pela FGV e concluiu Programas Executivos em Estratégia e Gestão pela Wharton School (EUA) e pela INSEAD (França). É autor de artigos e livros, destacando-se o livro “O Fator China e os Novos Negócios” (2021), obra consolidada como referência na área empresarial.

Na entrevista exclusiva à Rede Catarinense de Notícias, Henry Quaresma faz uma análise sobre alguns temas relevantes para o desenvolvimento  econômico no país. Acompanhe

RCN .Como está o ambiente de negócios no mundo?

O ambiente de negócios global atual é profundamente afetado por avanços tecnológicos, mudanças socioeconômicas, regulamentações políticas e desafios ambientais. Neste cenário,  a China desempenha um papel central como potência econômica influente. Seu crescimento econômico, investimento em inovação e expansão de influência global têm um impacto significativo nas dinâmicas de mercado e nas estratégias empresariais em todo o mundo. Os conflitos e guerras recentes, assim como as tensões geopolíticas observadas em várias regiões, também afetaram o ambiente de negócios global, causando instabilidade nos mercados, interrupções nas cadeias de suprimentos e incertezas econômicas, forçando as empresas a repensar estratégias e procurar alternativas para a gestão de riscos. A pandemia de COVID-19 intensificou essas tendências, ressaltando a necessidade de resiliência e adaptação rápida. A digitalização, a economia verde e a inovação emergem como oportunidades, mas requerem novas habilidades e abordagens. Neste contexto, a China e os desafios globais influenciam diretamente as estratégias de negócios, exigindo uma gestão de risco aprimorada e uma visão estratégica que considere tanto as oportunidades quanto as ameaças no cenário internacional.

RCN. Como as empresas brasileiras estão navegando neste mar turbulento?

No Brasil, as empresas nacionais ou transnacionais enfrentam um ambiente de negócios complexo e desafiador, marcado por instabilidades socioeconômicas, transformações digitais e pressões globais, ao mesmo tempo em que lidam com as peculiaridades locais. A volatilidade econômica, com flutuações cambiais e inflação, exige das empresas uma grande capacidade de adaptação e resiliência, levando-as a ajustar preços, diversificar fornecedores e buscar eficiências operacionais. A pandemia acelerou a digitalização, fazendo com que investimentos em tecnologia e e-commerce se tornassem essenciais para a sobrevivência e crescimento no mercado atual.

Além disso, há um crescente foco em sustentabilidade e responsabilidade social, refletindo as demandas de consumidores e investidores, assim como a necessidade de estar em conformidade com as regulamentações ambientais. As empresas estão também fortalecendo suas estratégias de gestão de riscos para lidar com as incertezas globais, como as decorrentes de conflitos internacionais e oscilação política.

A inovação e a busca por novos modelos de negócios são fundamentais para manter a competitividade, o que inclui a exploração de novos mercados e a diversificação de produtos. Em meio a isso, o complexo ambiente regulatório brasileiro exige atenção constante, especialmente no que se refere a impostos e normas trabalhistas e ambientais.

A situação fiscal do Brasil, caracterizada por altos níveis de dívida e desafios orçamentários, adiciona outra camada de complexidade. Isso impacta não apenas a política econômica, mas também influencia as decisões de investimento e a operação das empresas no país.

Por fim, a capacitação e retenção de talentos se tornou uma prioridade à medida que as habilidades necessárias para enfrentar os desafios atuais e futuros estão em constante evolução. Algumas empresas estão expandindo seus horizontes para mercados internacionais como forma de diversificar riscos e buscar novas oportunidades. Em suma, as empresas brasileiras estão se adaptando de maneiras multifacetadas para prosperar em um cenário de constantes mudanças e incertezas.

RCN. Qual a sua visão sobre o desenvolvimento do setor empresarial em Santa Catarina e quais são os principais desafios?

A economia catarinense é marcada por um forte espírito empreendedor e uma força de trabalho qualificada, contribuindo para um ambiente de negócios dinâmico e competitivo. Isso, aliado à qualidade de vida e à estabilidade social, torna Santa Catarina um estado atraente para investimentos e desenvolvimento econômico sustentável.

No ano de 2023, tivemos a criação de 222.808 empresas, sendo 96% na categoria de micro e pequenas empresas. Tivemos, portanto, um saldo positivo de 116.283 empresas entre criação e fechamento, conforme a JUCESC, refletindo um ambiente empresarial dinâmico e em expansão em Santa Catarina.

Com relação aos empregos, Santa Catarina criou 626 mil empregos formais em 2023, resultado de 1,5 milhão de admissões e 1,4 milhão de desligamentos, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED).

Para manter seu crescimento, Santa Catarina precisa superar desafios importantes, adotando práticas ESG (Ambiental, Social e Governança) para assegurar um desenvolvimento sustentável. A melhoria da infraestrutura logística é essencial, incluindo expansão dos acessos portuários, rodovias, ferrovias e aeroportos regionais, além de modernizar a rede de energia elétrica e gás natural para atender a demanda de forma sustentável. Temos um desafio especial que é a ferrovia para atender a logística do milho para a região Oeste catarinense interligando com o Centro-Oeste do país, reduzindo os custos logísticos e garantindo o abastecimento regular. A qualificação profissional também é importante para acompanhar inovações tecnológicas, exigindo investimentos em educação técnica e superior. É crucial equilibrar o crescimento econômico com a sustentabilidade ambiental. A diversificação econômica e a inovação, alinhadas com critérios ESG, são chave para manter a competitividade global. Políticas públicas voltadas para a desburocratização, reformas tributárias e uma governança sólida são necessárias para criar um ambiente de negócios favorável e atrair investimentos responsáveis, promovendo assim um crescimento econômico sustentável.

RCN. Como está o comércio exterior de Santa Catarina?

O comércio exterior de Santa Catarina é um componente vital da economia do estado, caracterizado por uma ampla diversidade de exportações, incluindo carnes, produtos florestais, móveis, itens têxteis, motores, motocompressores e máquinas. Essa produção multifacetada demonstra a capacidade do estado de competir em mercados internacionais variados. Com parceiros comerciais importantes como a China, os Estados Unidos e os países da União Europeia, Santa Catarina destaca-se pela sua habilidade de se inserir em mercados exigentes e competitivos. As importações, que incluem peças automotivas, produtos químicos e maquinário, revelam uma economia integrada às cadeias globais de valor, beneficiando também outros estados brasileiros. Em 2023, as exportações alcançaram US$ 11,6 bilhões, enquanto as importações somaram US$ 28,7 bilhões, resultando em um volume de comércio de US$ 40,3 bilhões, o equivalente a aproximadamente R$ 221,6 bilhões na economia de Santa Catarina. Os portos do estado desempenham um papel crucial nessa competitividade; contudo, há desafios a serem enfrentados, como a necessidade de diversificar ainda mais a base exportadora e de integrar de maneira mais efetiva as exportações das pequenas empresas industriais e do setor agrícola. É vital aprimorar a infraestrutura logística para expandir o acesso a mercados internacionais adicionais. Além disso, tendências como a digitalização, a sustentabilidade e a inovação tecnológica estão definindo o futuro do comércio exterior, criando novas oportunidades para as empresas catarinenses. A exportação de serviços por empresas de tecnologia emerge como uma estratégia promissora. A adaptação a essas tendências e a continuação dos investimentos em infraestrutura, inovação e diversificação de mercados são fundamentais para o sucesso duradouro do comércio exterior de Santa Catarina.

RCN. Qual é o potencial de Santa Catarina no setor de energia renovável e como isso pode influenciar o desenvolvimento econômico?

Santa Catarina é um líder na geração de energia elétrica, com a capacidade outorgada de 5.027 MHW. A energia é majoritariamente gerada por fontes hidráulicas (72,43%), seguida por térmica (22,27%), eólica (4,99%) e solar (0,30%). Com 77,72% de sua produção vindo de fontes renováveis, o estado está bem posicionado para inovar em tecnologias sustentáveis como a produção de hidrogênio verde. Santa Catarina também está ampliando seu portfólio com novos projetos de energia renovável eólica e solar. Também há importantes iniciativas na busca de alternativas para reduzir as emissões da geração térmica do carvão.

 Essa expansão reforça o compromisso catarinense com a sustentabilidade e a transição energética, consolidando sua liderança em práticas energéticas inovadoras e sustentáveis.

RCN. E o gás natural, qual o seu papel na transição energética e no crescimento econômico?

O gás natural em Santa Catarina desempenha um papel crucial na transição energética e no crescimento industrial do estado. Servindo como uma fonte de energia de transição, mais limpa que os combustíveis fósseis tradicionais como carvão e óleo, ele proporciona uma fonte de energia confiável e constante, complementando fontes renováveis como a solar e a eólica. No setor industrial, o gás natural é vital para diversos setores, como o cerâmico, impulsionando o desenvolvimento econômico. Sua utilização promove inovações tecnológicas e ajuda as indústrias a reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A iminente entrada em operação de um terminal de GNL (Gás Natural Liquefeito) aumentará a oferta de gás em Santa Catarina, permitindo novos investimentos empresariais e em geração de energia.

RCN. Poderia citar algumas áreas mais promissoras para investimentos em Santa Catarina?

Em Santa Catarina, muitas áreas apresentam boas perspectivas, mas podemos destacar algumas para exemplificar. O estado, reconhecido como um ambiente fértil para o empreendedorismo, é marcado pela contínua evolução de setores industriais, turismo, serviços, agrícolas e comerciais já consolidados que sustentam investimentos para ampliar sua competitividade. Além disso, revela-se uma diversidade de setores emergentes com potencial para investimentos atrativos, refletindo tanto as características econômicas locais quanto as tendências globais. Entre os setores, cito alguns:

- Tecnologia e Inovação, com um polo em expansão em Florianópolis focado em software, inteligência artificial e soluções digitais;

- Agroindústria também se sobressai, oferecendo oportunidades no processamento de alimentos, tecnologia agrícola e exportação, fortalecida pela robusta produção agrícola e de proteína animal do estado;

- O setor de Turismo e Hospitalidade aproveita as belas regiões e atrações turísticas, promovendo investimentos em hotéis, resorts, restaurantes e serviços.

- As Energias Renováveis, abrangendo projetos de energia solar, eólica e hidrogênio verde, atendem à crescente demanda por opções sustentáveis;

- O Comércio Eletrônico e Varejo Digital experimentam um crescimento, abrindo caminho para empresas de logística e tecnologias correlatas;

- A Indústria Têxtil e de Vestuário, na qual o estado lidera, apresenta oportunidades para inovação, produção sustentável e comércio eletrônico;

- O Comércio Exterior é impulsionado pela competitividade dos portos e produtos catarinenses, oferecendo perspectivas excelentes para a exportação e importação;

- O setor de Saúde e Biotecnologia expande-se diante do envelhecimento populacional e do aumento da conscientização sobre saúde e bem-estar, criando demanda por biotecnologia, equipamentos médicos e serviços de saúde;

- A Educação e E-learning ganham destaque com a demanda crescente por educação contínua, estimulando investimentos em tecnologias educacionais e plataformas de aprendizado online;

- A Construção Civil e Infraestrutura veem uma demanda por projetos que enfocam sustentabilidade e eficiência energética;

- Finalmente, a Indústria Criativa, incluindo marketing digital, design e entretenimento, oferece crescentes oportunidades de investimento.