Para a vice-governadora, daqui a 20 anos as mulheres estarão mais encorajadas para participar da política

Formada em Direito e pós-graduada em Ciências Criminais, a vice-governadora Marilisa Boehm é natural de Joinville, tem 58 anos de idade, e um longa história de lutas em defesa da mulher.

Foi fundadora da Delegacia da Mulher de Joinville, onde foi titular entre 1990 e 2014. Participou ativamente na criação da casa “Viva Rosa”, para abrigamento de mulheres vítimas de violência, bem como do Protocolo de Atendimento as Pessoas Vítimas de Violência Sexual, serviço de grande importância para evitar a revitimização de quem sofreu crimes sexuais

Em entrevista exclusiva à Rede Catarinense de Notícias, em seu gabinete, no Centro Administrativo,  Marilisa Boehm fala sobre sua decisão de entrar na vida pública e como vê a participação feminina na política.  


O que motivou a aceitar o convite para ser candidata a vice-governadora?

Marilisa: Enquanto policial civil, a minha bandeira sempre foi a defesa das mulheres vítimas de violência. Acredito que a mulher é a coluna da casa, que cuida dos filhos, cuida do marido, cuida da casa, sempre procurei cuidar da família, pois a mulher representa a família. E durante a minha carreira eu sempre quis fazer projetos para melhorar a vida dessas pessoas: tanto nas oportunidades de trabalho, na questão humana e de saúde das mulheres. Buscava levar essas ideias nos diferentes setores da sociedade: Câmara de Vereadores, associações empresariais e sentia que não era ouvida. Para ser ouvida eu precisava entrar na vida pública, fui candidata a vereadora em 2012, depois candidata a vice-prefeita, sempre em Joinville, quando surgiu o convite do então senador Jorginho Mello para ser candidata a vice-governadora. Depois da disputa do ano passado, nós conquistamos o mandato, ele de governador e eu de vice.

Como vê a baixa representação feminina na política?

Marilisa: Na década passada eu diria que a razão era o medo; as mulheres tinham receio de entrar na política e as mulheres precisavam pedir o aval dos maridos, companheiros ou noivos para serem candidatas, pois os cargos eram destinados aos homens. Hoje, muitas estão encorajadas a participar, mas ainda existe um receio por ser um mundo selvagem, uma disputa aguerrida, precisa ter bom raciocínio, paciência, cautela e conhecimento. A vinda das mulheres para o mercado de trabalho aos poucos está levando ao empoderamento delas; acredito que daqui a 20 anos elas estarão mais encorajadas para participar da política. Tudo é um caminhar. Daqui para frente é um passo só neste sentido, hoje somos poucas, mas em breve seremos muitas.

Uma de suas frentes de trabalho é o combate à violência contra a mulher, como podemos diminuir essas tristes estatísticas?

Marilisa: A independência da mulher não está sendo bem entendida pelos homens, mas as mulheres estão denunciando mais, buscando as delegacias da mulher, algo que não faziam antes por medo ou vergonha. É um problema comportamental e cultural esse machismo; que o homem precisa ganhar mais,  que causa insegurança e acaba provocando violência. Estamos avançando no entendimento, da aceitação do homem neste novo momento e daqui mais alguns anos vamos ver esses números se reduzir. O importante é que Santa Catarina está vendo os números, identificando e treinando pessoas para o atendimento das mulheres nas delegacias. As mulheres estão sendo acolhidas, orientadas e encaminhadas para oportunidades de emprego.

De que forma, enquanto vice-governadora e delegada de polícia aposentada, pensa que o estado catarinense pode ampliar essa luta contra a violência contra a mulher?

Marilisa: A ideia é unir todos os órgãos e entidades que atuam com a mulher, pois o trabalho é feito isoladamente e queremos ter um protocolo único. Será mais conciso, para dar uma direção para todas essas ações que são feitas nas diferentes esferas governamentais e fora da máquina pública. Muitas vezes as pessoas estão atuando e não conseguem condições financeiras para executar as estratégias de enfrentamento. Quando o Tribunal de Justiça, por exemplo, tem esses valores, a Procuradoria da Mulher tem a forma de resolver determinada essa situação. O governador Jorginho Mello me deu carta branca para combater a violência contra a mulher no estado.