Encontro Estadual de Gestores do Agronegócio e Alimentos e Bebidas debate projeto estadual que considera produção, indústria e mercado
Qualidade com conceito elevado, mão de obra familiar, comprometimento dos empreendedores, cortes adequados e status sanitário são conceitos que destacam a imagem da ovinocaprinocultura catarinenses no cenário nacional. Esses indicadores foram apresentados nesta semana durante o Encontro Estadual de Gestores do Agronegócio e Alimentos e Bebidas, promovido pelo Sebrae/SC, no Centro de Inovação ACATE Deatec/Centro Executivo E.T. Renovável, em Chapecó. Porém, mesmo com reconhecimento nacional o setor ainda requer aprimoramento no manejo, incentivo para ampliar a produtividade e organização da cadeia produtiva.
A temática de “identificação de oportunidades e dos desafios na cadeia produtiva da ovinocaprinocultura” foi explanada pelo tecnólogo em agronegócio e consultor da Secretaria de Agricultura de SC e credenciado ao Sebrae/SC, Paulo Gregianin. Entre os assuntos estiveram o histórico da atividade na região oeste catarinense que concentra 47,6% do rebanho de ovinos do Estado, situação atual, demandas e desafios do setor, valor da produção, indicadores de importação, destinos da produção catarinense, a atividade como uma alternativa econômica e viável, perfil do consumidor e políticas públicas integradas.
Segundo Gregianin, a situação atual em Santa Catarina reflete uma atividade ainda pouco expressiva, com problemas estruturais na conjuntura da cadeia, falta escala e produto para os frigoríficos. Além disso, mais de 90% dos animais produzidos são abatidos informalmente e é insuficiente o número de pequenos abatedouros por microrregiões ou prestadores de serviço com Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI) ou Serviço de Inspeção Federal (SIF) por território.
Como demandas, o consultor apontou problemas tributários e sanitários (verminose), informações adequadas para nutrição, período entressafra, elaboração de um sistema produtivo, orientações sobre raças e cruzamentos, sistema de gerenciamento produtivo integrado, assistência técnica capacitada e criação de uma governança para a cadeia produtiva. Segundo o consultor é fundamental estruturar um projeto com ações de curto, médio e longo prazo que possibilite escalar o desenvolvimento em cadeia. “É necessário inserir uma mudança de cultura inovadora e sustentável para hábitos e costumes de produção, industrialização, venda e consumo”, comentou.
“A intenção é criar e fortalecer a cadeia produtiva desde a produção do campo até o mercado consumidor, para transformar Santa Catarina em um grande polo de produção. Precisamos despertar a necessidade do crescimento da ovinocaprinocultura, a profissionalização da atividade, ampliar o consumo de carne ovina e caprina e implantação de um modelo de produção padronizado, além de construir possibilidades de melhorar a rentabilidade e de viabilizar a permanência do produtor no campo”, argumentou Gregianin ao comentar que o planejamento do fomento da cadeia deve levar em consideração três eixos: produção, indústria e mercado.
AGROINDÚSTRIA
O empresário e produtor rural do Frigorífico Guatapará, Dagoberto Toledo, abordou os gargalos da agroindústria de ovinos e caprinos em Santa Catarina. “A industrialização desse setor é muito recente, somos os pioneiros e estamos apenas há 20 anos em atividade. Metade desse tempo o trabalho era exclusivamente de venda de carcaças para mercados e açougues. Depois começamos a olhar a necessidade do consumidor, que é de cortes específicos e embalados a vácuo, por isso adotamos cortes padronizados mundialmente”, relatou.
Outro desafio do setor é em relação a carne importada oriunda do Uruguai. “Em sua maioria é de baixa qualidade, porém vem com um preço atrativo para o consumidor e compete com a carne nacional, que é de animais jovens e tem um custo mais elevado para a produção”, destacou o empreendedor. Dagoberto também citou como empecilho o abate informal, a questão tributária catarinense que não oferece benefícios para atividade tão recente e o fornecimento de maquinário específico para a indústria que precisa ser desenvolvido sob encomenda ou importado.
Para Dagorberto o principal obstáculo que precisa ser imediatamente superado é o marketing para divulgar estrategicamente o setor. “Precisamos tirar o produto do espeto no fim de semana e colocá-lo na panela da dona de casa durante a semana. Atualmente o consumo está muito atrelado as festividades”, explicou. Como estratégias de comunicação para incentivar o consumo da carne foi citado o preparo de pratos, tipos de temperos que podem ser utilizados, acompanhamentos indicados, bebidas que podem harmonizar com a proteína, oficina culinária e divulgação de pratos de cordeiros em feiras setorias.
CADEIAS PRODUTIVAS
A análise das principais cadeias produtivas de Santa Catarina foi apresentada pela analista de dados do Observatório Sebrae/SC, Amanda Maciel da Silva. Entre os assuntos abordados estiveram estrutura das principais cadeias produtivas, panorama internacional e nacional, número de empresas ativas por atividade econômica, serviços oferecidos por segmento, empregos gerados e valor da produção.
Amanda também apresentou tendências de futuro para a produção de alimentos. Para o agronegócio incluem sustentabilidade, adaptação à mudança do clima, agrodigital, intensificação tecnológica e concentração da produção, transformações rápidas no consumo e na agregação de valor, biorrevolução, integração de conhecimentos e de tecnologias, incremento da governança e dos riscos. Para a indústria de alimentos e bebidas as tendências apontam para mercados emergentes de alimentos, sistemas de produção e tecnologias não convencionais, tecnologia da informação, sistemas de embalagem e distribuição não convencionais, mudança no perfil populacional, estresses do meio ambiente e sistema de saúde.
PLANEJAMENTO
Conhecer o contexto das cadeias produtivas e as principais tendências desses setores contribui para que os gestores tenham senso crítico e subsídios para elaborar projetos consistentes. “Nosso papel é encontrar soluções para os gargalos das cadeias produtivas e também ajudar o produtor e essa cadeia a enxergar as tendências de futuro, porque o mercado vai evoluindo. Então, precisamos prestar atenção no que o consumidor quer, o que a indústria precisa e quais são as necessidades do produtor. A partir desse conhecimento, desse cenário específico, podemos programar ações para resolver pontualmente os problemas, que em muitos casos são individuais, mas que também podem impactar a cadeia como um todo”, enalteceu o gestor do agronegócio do Sebrae/SC, Denilson Coelho.
O gerente regional do Sebrae/SC no oeste, Udo Martin Trennepohl, ressaltou que durante esses três dias os gestores da entidade estão discutindo com a Gerência de Competitividade quais serão as visões para os próximos anos em relação aos setores e segmentos que serão trabalhados em cada região e no Estado. “Neste primeiro momento, estamos discutindo especificamente a cadeia do agro, e Chapecó não foi escolhido à toda. Aqui temos os maiores projetos e a maior longevidade na gestão de projetos com enfoque no agronegócio e seus segmentos, que poderão servir, inclusive, como matriz para subsidiar o desenvolvimento do setor em outras regiões e no Estado”.
No oeste a ênfase escolhida foi a ovinocaprinocultura, pois a região tem uma possibilidade maior para explorar essa cadeia produtiva e condições para construir uma nova matriz econômica para o Estado. “Até quinta-feira (4), queremos estruturar um projeto para esse setor. Além de discutirmos outras cadeias do agronegócio, como bovinocultura de leite e corte, para pelo menos subsidiar as outras sete gerências regionais com informações e conhecimentos para que possam construir novos projetos”, comentou o gerente regional.
Trennepohl também antecipou que na próxima quarta-feira (10) a região oeste debaterá com a Gerência de Competitividade quais serão adensados dos setores da indústria metalmecânica, moveleira, confecção, alimentação, plástico ou agroindústria. “A reunião será novamente em Chapecó, porque precisamos migrar do agronegócio para outros negócios, no mínimo, 15% em diversificação dos setores industrial, de comércio e serviços”, adiantou.
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