Educação financeira obrigatória: um desafio necessário, por Gabriel Lacôrte
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Como implementar uma nova disciplina de forma eficiente em um sistema educacional já sobrecarregado? (Fotos: Divulgação)
O papel da Educação Financeira desde a infância tem se mostrado cada vez mais urgente para a população: 47% dos jovens brasileiros da Geração Z não sabem gerenciar as finanças pessoais, como apontam pesquisas da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), SPC Brasil e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Porém, com a possível aprovação do Projeto de Lei 2747/24, que propõe a obrigatoriedade da Educação Financeira como disciplina nos currículos escolares a partir de 2026, gestores escolares enfrentam um desafio: como implementar uma nova disciplina de forma eficiente em um sistema educacional já sobrecarregado?
A experiência do passado pode oferecer pistas, pois as dificuldades de integrar novas disciplinas à grade curricular não representam uma novidade. Em 2008, quando Sociologia e Filosofia se tornaram obrigatórias no Ensino Médio, muitas escolas se depararam com desafios para contratar professores especializados, desenvolver materiais didáticos e adaptar cronogramas já saturados, comprometendo até a qualidade do ensino em primeiro momento.
Com a Educação Financeira, o cenário pode ser ainda mais complicado. A implementação exige expertise específica e metodologias que dialoguem diretamente com a realidade dos estudantes, quebrando as barreiras já existentes no ensino, como:
Sobrecarga dos conteúdos obrigatórios nas escolas: a rotina tradicional já se tornou saturada para alunos e professores, levando a Educação Financeira a ser vista como uma disciplina secundária diante das outras e, dessa forma, lecionada de maneira superficial;
Capacitação e formação: os professores dependem de treinamento especializado para desenvolver uma disciplina que não se limite apenas ao conhecimento técnico, mas à atualização constante das metodologias de ensino;
Resistência cultural: para muitos pais, alunos e unidades que estão acostumadas com o currículo convencional, a compreensão é que o ensino de finanças não faz parte da formação básica do estudante. Além disso, o tabu de falar sobre dinheiro ainda deixa os educadores inseguros para lidar com o tema;
Falta de recursos e infraestrutura adequada: toda disciplina demanda um planejamento logístico que contemple os materiais didáticos, ferramentas digitais e espaço para atividades práticas. Sem esse suporte, a implementação continua sendo apenas uma ideia no papel.
Oportunidades em meio aos desafios
Em um país onde quase 80% da população está endividada, a Educação Financeira é mais do que necessária, e a obrigatoriedade da disciplina é uma esperança de transformar a realidade econômica do país. Ensinar jovens a gerenciar dinheiro, planejar e tomar decisões conscientes pode quebrar ciclos de endividamento que passam de geração em geração.
Contudo, para que essa transformação aconteça, é preciso abordar a implementação de forma mais inteligente e adaptada aos tempos atuais, com ferramentas tecnológicas que facilitem a inclusão de novas disciplinas. A inteligência artificial, por exemplo, permite criar soluções personalizadas para cada escola, incluindo planos de ensino, materiais didáticos interativos e sistemas de avaliação automatizados. Esses recursos reduzem a necessidade de contratação de especialistas e tornam o processo mais acessível.
Simplificando processos com soluções ideais
Para que nenhuma experiência traga malefícios para os estudantes, é fundamental que pais e escolas encontrem soluções alinhadas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Neste caso, é preferível procurar ferramentas digitais condizentes com os planos de ensino e focadas em atender às necessidades dos educadores, ao mesmo tempo que fornecem trilhas de aprendizado agradáveis e gamificadas para os alunos.
O diferencial dessas iniciativas está em integrar tecnologia, pedagogia e estratégias de engajamento, como a gamificação, permitindo que as escolas adotem novos conteúdos de forma prática e eficiente. Esse tipo de solução evita que os gestores precisem lidar com altos custos ou reestruturações complexas, provando que, com as ferramentas certas, desafios educacionais podem ser transformados em oportunidades.
O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer com a obrigatoriedade da Educação Financeira no ensino, mas não há dúvidas de que essa nova disciplina servirá como uma preparação dos jovens para os desafios da vida real. Quando acompanhada de soluções práticas, a matéria poderá minimizar os desafios enfrentados pelas escolas e poderá ser a semente de um país economicamente mais sustentável.
* Formado em Engenharia de Produção, com MBA em Gestão de Projetos e experiência em gestão de pessoas e projetos por mais de seis anos, Gabriel Lacôrte é criador de conteúdo especializado em finanças, COO e cofundador da Tangram, primeira plataforma online de Educação Financeira para escolas alinhada à BNCC.
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