Nos últimos 10 dias (entre 23 de agosto a 5 de setembro) tive a oportunidade de participar – representando o governo do Estado ao lado das secretárias de Estado de Articulação Nacional, Vânia de Oliveira Franco, e Adjunta da Educação, Patrícia Lueders - de uma missão técnica organizada pela ACAFE e liderada por sua presidente Luciane Ceretta, imergindo no universo da educação, da pesquisa, da ciência, da tecnologia e da inovação em dois dos países mais desenvolvidos e inovadores do planeta: Finlândia e Suécia.

Investir em educação e inovação é fator de sucesso de uma política pública de desenvolvimento econômico e este é um dogma facilmente validado quando se conhece in loco esses dois países. A Suécia é o 2° país mais inovador do planeta segundo Índice Global de Inovação do OMPI e a Finlândia ocupa a 6°colocação no mesmo ranking. A Finlândia é ainda a melhor educação do mundo segundo a PISA da OCDE, enquanto a Suécia tem 17 universidades entre as melhores universidades do mundo (Brasil tem 5) sendo o berço do Prêmio Nobel. E ambos são respectivamente (Suécia e Finlândia), o 5° e 12° maiores IDH´s de acordo com PNUD.

Mas o que faz com que esta estratégia centrada nos pilares da educação, pesquisa, desenvolvimento e inovação produza resultados tão impressionantes e diferenciados nesses dois países? Certamente que a estrutura física das escolas, faculdades, universidades e centros de pesquisa e inovação são importantes. A qualidade de vida (não obstante o rigoroso inverno), a informalidade, a flexibilidade e a ambiente de negócios também. A preocupação na formação dos professores também. Sem falar na segurança pública e no ensino universal gratuito (da escola básica até universidade) para todo cidadão europeu.

Contudo, minha conclusão é de que o grande diferencial está no mindset de todo esse ecossistema. Nesses países tudo é desenhado a partir do mundo real. Trabalham os dados do passado, no presente, projetando o futuro. Sempre com base em dados. A informalidade e a flexibilidade que permeia toda a sociedade permitem adaptações observando as grandes diretrizes estratégicas.

Nesses países, o setor produtivo diz para onde está indo e quais os fatores críticos de produção que precisam ser resolvidos para atingir seus objetivos. As universidades direcionam então os seus investimentos em educação, pesquisa, desenvolvimento e inovação nessa mesma direção. Com esse drive, empresas privadas enxergam valor na relação com a academia e se unem ao governo para cofinanciar esses investimentos.

Universidades focadas em negócios e economia produzem capital humano que se juntam ao ecossistema para dar uma visão de negócio para as pesquisas e projetos inovadores. Resultado: apenas a Stockholm School os Economics produziu do zero (startup) 20 unicórnios (empresas que valem mais de US$ bilhão).

A visão de mercado (mundo real) como eixo fundamental permeia todo o ecossistema. Universidades chegam a adaptar suas grades para atender as necessidades de mercado. As empresas entregam seus problemas para que os alunos possam resolvê-los. Desafios são divididos em grupos multidisciplinares numa metodologia que eles chamam de “pedagogia da inovação”, verdadeira resposta a necessidade de habilidades do futuro. Os alunos apreendem fazendo (learning by doing). As competências técnicas e as socioemocionais com uma influência forte de mercado andam sempre juntos criando um conceito chamado pelos finlandeses de “profissional skills”. E assim são trabalhadas como políticas públicas.

Pesquisa, empreendedorismo e inovação andam tão próximos que algumas universidades possuem holdings de investimentos em startups e se unem a fundos de capital de risco para financiar ideias inovadoras alinhadas com setores estratégicos. A KTH Holding AB, veículo de investimento da KTH Royal Institute of Technology investe, por exemplo, até US$ 200 mil dólares no capital de deep techs (startups que atuam com inovação complexa).

O foco em altas tecnologias não é apenas uma tendência, mas se reflete nas inovações produzidas como também em números. Em Tampere (FIN), uma cidade com 500 mil habitantes, são 5.000 experts trabalhando exclusivamente com Inteligência Artificial, ou seja, 1% da população. Para dar suporte a esta diretriz estratégica, iniciativas como a da Turku School os Economics da University of Turku na Finlândia possui um centro de pesquisa chamado Finland Futures Research Center dedicado ao estudo do futuro. Entre as linhas de pesquisa está o futuro das tecnologias.

De fato, foi uma experiência única e verdadeiramente enriquecedora. Se de um lado conclui-se que temos um longo caminho pela frente, por outro tive a certeza de que Santa Catarina está no caminho certo.

Sob a liderança do governador Jorginho Mello, iniciativas como programa Universidade Gratuita (em inglês, Free University for All) e o CATEC somados a iniciativas como o PRONAMPE, a revisão de programas de incentivo econômicos e a própria criação da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação colocando o setor produtivo no centro de sua estratégia de desenvolvimento, evidenciam o alinhamento com o que há de mais bem sucedido no planeta em termos de políticas públicas.

E reforçam ainda mais a minha crença particular de que nosso Estado deve liderar a agenda nacional do capital humano, da tecnologia e da inovação. Porque aqui, educação, governo e o mundo real estão de fato conectados.